A Coleção Entomológica do Museu Nacional
A Coleção Entomológica é parte fundamental do Departamento de Entomologia do Museu Nacional/UFRJ. O Departamento originou-se em 1842 como um dos setores da antiga Seção de Zoologia do Museu Nacional e adquiriu o status de Laboratório de Entomologia Geral e Agrícola em 1916. A partir de 1971, já no âmbito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, passou a ser reconhecido como um departamento distinto. Atuando na pesquisa, ensino e extensão, suas principais missões relacionam-se a manutenção, preservação e estudo da Coleção Entomológica do Museu Nacional, uma das maiores e mais representativas da América Latina, onde cerca de doze milhões de exemplares ou lotes estavam depositados antes do incêndio de 2 de setembro de 2018. No Departamento, diversas linhas de pesquisa envolvendo insetos vêm sendo desenvolvidas, com enfoque na sistemática, morfologia, biologia, ecologia, biodiversidade e história natural. Atualmente temos 08 professores/curadores especialistas em ordens como Coleoptera, Diptera, Hemiptera, Hymenoptera, Lepidoptera, Odonata e Orthoptera, além de um professor emérito (prof. Miguel Monné), uma gerente de coleções e 5 técnicos. Para conhecer mais sobre o Departamento de Entomologia do Museu Nacional, acessem o nosso site.
O incêndio de 02 de setembro destruiu praticamente toda a Coleção Entomológica do Museu Nacional, incluindo toda a Coleção de Orthoptera (à exceção dos poucos espécimes em empréstimo à época). A Coleção de Orthoptera do Museu Nacional era a maior e mais importante coleção de referência do país, com um acervo de mais de 28.000 espécimes montados e mais de 10 mil espécimes em mantas entomológicas (backlog). Além disso, a coleção abrigava 3.129 espécimes-tipo, distribuídos em 215 holótipos, 134 alótipos e 2.761 parátipos, representando 328 espécies. Dos 28.042 espécimes da coleção, pouco mais de 22 mil eram gafanhotos (Caelifera), sendo 15.020 Acrididae e 5.848 Romaleidae. A grande quantidade de espécimes-tipo e o rico acervo de gafanhotos tornava a Coleção de Orthoptera do Museu Nacional uma das mais importantes do mundo. Uma lista dos tipos primários da coleção pode ser vista em Monné (2018), ver Publicações.
A Coleção de Orthoptera do Museu Nacional também carrega uma bela história, a qual confunde-se com o desenvolvimento da orthopterologia no Brasil. Os espécimes mais antigos da coleção datam do início do século XX e importantes naturalistas brasileiros do século passado contribuíram com o acervo, como Cândido Firmino de Mello-Leitão (1886-1948) e o grande Ângelo Moreira da Costa Lima (1887-1964). Porém, a coleção ganha volume e importância com a colaboração de outro grande entomólogo, nosso atual professor emérito Dr. Miguel Monné, eminente especialista em besouros Cerambycidae. Na década de 70, o ortopterólogo francês Marius Descamps (1924-1996) iniciou uma série de expedições de coleta de gafanhotos no Brasil e procurou por pesquisadores do Museu Nacional para apoiar seu trabalho. Lá ele conheceu Monné e outro grande personagem da entomologia nacional, o médico Carlos Alberto Campos Seabra (1916-2001). Seabra se entusiasmou com os gafanhotos e passou a apoiar expedições de coleta pelo Brasil, sobretudo em diversas áreas da Amazônia. A atuação destes três personagens, Monné, Seabra e Descamps culminou com a criação de um dos mais importantes acervos de gafanhotos do mundo e uma riquíssima coleção, com material de todas as regiões brasileiras, 49 países e doações de importantes museus como o Muséum National d’Histoire Naturelle (França), Museo de La Plata (Argentina) e a Academy of Natural Sciences of Philadelphia (atualmente Academy of Natural Sciences of Drexel University) (EUA). Além disso, grandes nomes da orthopterologia mundial frequentaram e contribuíram com a Coleção. Para saber mais sobre estas e outras histórias envolvendo importantes ortopterólogos, a Coleção Seabra / Museu Nacional e o desenvolvimento da orthopterologia nacional acessem a página de Publicações (The Orthoptera Collection at MNRJ and the Brazilian Orthopterology).
As fotos abaixo contam um pouco da história da Coleção de Orthoptera do Museu Nacional.
Apesar da terrível perda deste valiosíssimo acervo, temos uma boa notícia. Graças ao trabalho da equipe de bolsistas da equipe do projeto SIBBr (Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira) do Museu Nacional liderado pela professora Cátia de Mello-Patiu, toda a coleção de Orthoptera foi digitalizada. As informações das etiquetas dos 28.042 espécimes montados foram fotografadas e salvas em uma planilha e todos os tipos primários da coleção foram fotografados. Portanto, apesar da perda física, as informações ficaram preservadas graças ao belo trabalho desenvolvido pela equipe da professora Cátia. Importante destacar que grande parte dos dados de identificação são confiáveis por se tratar de um acervo que foi trabalhado por importantes nomes da orthopterologia mundial, como Marius Descamps, Carlos Carbonell, H.R. Roberts, Ricardo Ronderos, Maria Marta Cigliano, entre outros.
Os registros podem ser consultados no site do SIBBr.
Para maiores informações sobre táxons depositados na coleção até 2018, contactem o professor Pedro Souza Dias.
A Nova Coleção de Orthoptera (e outros ortopteroides)
Com a criação do Laboratório de Orhoptera inicia-se também os trabalhos de reconstrução, tanto da Coleção Entomológica (e do Departamento de Entomologia), quanto da Coleção de Orthoptera. Desde então, temos nos dedicado a realização de expedições (ver Expedições), colaborações e parcerias institucionais para a reconstrução da Coleção.
A Coleção de Orthoptera está dividida em duas coleções, a úmida (etanol) e a seca, com os espécimes alfinetados. Na coleção úmida concentram-se os ensíferos, sobretudo os Grylloidea, os quais estão fixados em etanol >70%. A coleção seca abriga, majoritariamente, gafanhotos (Caelifera) e esperanças (Tettigoniidae).
Com um acervo em constante crescimento, a Coleção de Orthoptera tem condições de receber e abrigar adequadamente espécimes, tanto em via seca quanto em via úmida, incluindo material-tipo.
Além desta coleção, o Laboratório também é responsável pelas coleções de Mantodea, Phasmatodea, Dermaptera, Embioptera e Zoraptera. Destas, as coleções de Mantodea e Phasmatodea destacam-se pelo crescimento constante, com o ingresso de espécimes obtidos nas expedições. Estas coleções também dividem-se em coleção seca e coleção úmida, embora mais de 90% do material esteja alfinetado e acondicionado em gavetas entomológicas.
Esperamos, nos próximos anos, aumentar cada vez mais o acervo, de modo a restaurar a relevância histórica da Coleção de Orthoptera do Museu Nacional.